Bocage: Vida e Sexo
Se é doce no recente, ameno Estio
Ver toucar-se a manhã de etéreas flores,
E, lambendoas areias e os verdores,
Mole e queixoso deslizar-seo rio;

Se é doce o inocente desafio
Ouvirem-seos voláteis amadores,
Seus versos modulando e seus ardores
Dentre os aromas de pomar sombrio;

Se é doce mares, céus ver anilados
Pela quadra gentil, de Amor querida,
Que esperta os corações, floreia os prados,

Mais doce é ver-te de meus ais vencida,
Dar-me teus brandos olhos desmaiados
Morte, morte de amor, melhor que a vida.

Bocage: Vida e Sexo
“O povo português só conhece o nome de dois poetas, Camões e Bocage;(...)” é assim que começa o texto do livro Obras de Bocage escrito em 1968 por Lello & Irmão – Editores, na cidade do Porto. E nesse livro eu encontrei o poema deste estudo na página de número 423 com o titulo À Mesma e na página 417 encontro o seguinte titulo para esta secção do livro: “Período de Desalento e Morte(1798 a 1805).
Elmano Sadino é mais conhecido por seus textos picarescos e mesmo o soneto deste estudo parece mostrar-se como a descrição de uma relação carnal entre um homem e uma mulher, mas será que é só esta a leitura que se pode fazer desse poema?
As duas primeiras estrofes com seus vários elementos que em conjunto delineiam uma paisagem tipicamente arcádica, por seu bucolismo e tranqüilidade. Seriam elas equivalentes ao flerte e as primeiras caricias trocadas entre os amantes.
A terceira estrofe também arcádica na sugestão pastoril da figura feminina engrinaldada de flores, aparenta ser o inicio da execução do ato em si.
Mas é na última estrofe que apesar de revestida da delicadeza tradicionalmente aliada à cena de amores pastoris, que o vocabulário alude ao amor/sentimento, falando mais claramente dessa relação de intimidade entre os amantes. Já que no verso final, que agora transcrevo, “Morte, morte de amor, melhor que a vida”, sugere a completa satisfação amorosa desse encontro carnal.
No primeiro parágrafo deste texto, citei um livro e o nome do capitulo em que esta colocado o soneto deste estudo e estas informações reforçam minha idéia de que existe outra leitura possível para o poema se não fosse apenas a descrição delicada e elegante de uma relação sexual, mas também uma pequena e rápida narração de se estado de espírito na época como sugere o titulo do capitulo Período de Desalento e Morte.
Vejamos as duas quadras demonstrariam o nascimento e a infância, um tempo de alegria e calma. Como se imagina que seja uma vida campesina.
O primeiro terceto alude-me à adolescência e a vida adulta do poeta, boêmia, cheia de amores e viagens, portanto agitada como o mar, que nunca para de se mover.
O terceto seguinte no qual ele personaliza a “Morte”, mostra-nos como Bocage estava envolto na perspectiva da morte. O poeta sofre diante da morte próxima, porém acredita que a morte seja doce e que ela trará a ele a vitória sobre seus padecimentos; o fato se confirma quando olhamos para a forma com que o poeta escreveu esse soneto.
As três primeiras estrofes dele começam com a mesma expressão racional (...) Se é (...), que passa a idéia de duvida e só no terceto final essa expressão não foi usada isso aliada a já falada personalização da Morte confirma a única certeza que todos nós temos na vida, ou seja, um dia morremos.

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